Para Paulo Bracks, tcnico Felipe Conceio ser profissional de ponta no pas (Foto: Daniel Hott/Amrica)
A recuperao do Amrica na Srie B do Campeonato Brasileiro ou pela confiana no trabalho de Felipe Conceio, que tirou o time da ltima posio, na 10 rodada (7 pontos), e conduziu at a briga pelo o (5, com 38 pontos em 26 jogos). Um dos principais apoiadores do treinador, o diretor executivo de futebol Paulo Bracksdeu detalhes de como ocorreu o resgate da confiana do grupo.
“A gente identificou os problemas que existiam internamente no clube. Um dos problemas principais e que mereciam pronta interveno da diretoria era o resgate da confiana dos atletas. No se tratava de trocar de jogador, no se tratava de contratar ou dispensar, fazer barca, contratar nomes novos. Era resgatar a confiana do elenco que ali estava”, afirmou, em entrevista ao Superesportes.
Ento coordenador tcnico do Amrica, Conceio foi efetivado treinador em 15 de julho, pouco depois da demisso Maurcio Barbieri. Na ocasio, a equipe vinha de derrota por 4 a 0 para o Figueirense, no Independncia, pela nona rodada da Srie B.
O comeo da trajetria no foi fcil em termos de resultados. Na estreia, o empate por 1 a 1 com o Vila Nova-GO, no Serra Dourada, em Goinia, fez o Coelho cair para a lanterna, com apenas seis pontos. Na sequncia, o time ficou no 0 a 0 com o Oeste e perdeu por 1 a 0 para o Atltico-GO, no Independncia. adas 12 rodadas, o Amrica havia somado apenas sete pontos. Apesar das cobranas externas, a direo deu respaldo a Felipe Conceio, conforme explicou Bracks, por causa da evoluo no rendimento.
“Tanto no jogo contra o Vila, em que tivemos comportamento muito bom, quanto no jogo contra o Oeste, que no ganhamos em casa por detalhes. E o jogo contra o Atltico-GO talvez tenha sido, at ento, o nosso melhor jogo na competio. S que no fim do jogo tomamos um gol por detalhe. Ali foi o momento de juntar e unir cada vez mais, pois acreditvamos no trabalho. Era muito cedo para avaliar, mas o que tinha sido mostrado nos fazia crer que era positivo, como de fato foi”.
Paulo Assis (superintendente geral), Paulo Bracks (diretor de futebol), Marcus Salum (presidente), Luiz Kriwat (gerente de futebol) e Felipe Conceio (tcnico) (Foto: Mouro Panda/Amrica)
Na 13 rodada, o Amrica venceu a Ponte Preta por 1 a 0, no Moiss Lucarelli, em Campinas. A partir dali, comeou a disparada. O empate por 0 a 0 com o Vitria, na 17 rodada, fez o time sair da zona de rebaixamento e assumir o 16 lugar, com 18 pontos. Na 23 rodada, com o triunfo por 2 a 0 sobre o Sport, o Coelho alcanou 32 pontos, abriu oito de vantagem sobre o Vila Nova (17) e ficou a quatro do CRB (4).
Por fim, a vitria de quinta-feira sobre o CRB, por 1 a 0, no Independncia, pela 26 rodada, deixou o Amrica com 38 pontos. Desde a arrancada inicial ante a Ponte Preta, o time de Felipe Conceio disputou 14 partidas, com nove vitrias, quatro empates e apenas um revs -73,8% de aproveitamento. Mrito do conhecimento do treinador, que, na viso de Paulo Bracks, ser no futuro um dos mais renomados do Brasil.
“O Felipe Conceio ser, em pouco tempo, um treinador de ponta no futebol brasileiro. No tenho dvidas em relao a isso. Tem conhecimento tcnico muito grande. Ele foi escolhido por conhecer estritamente o elenco nosso, por saber as caractersticas dos nossos jogadores, saber o comportamento, o carter. Ele conhece os atletas. A escolha dele, na verdade, no foi uma escolha, e sim ele pedindo agem por conhecer o elenco. Precisvamos naquele momento de algum que acreditasse nos jogadores com os quais estvamos trabalhando. A partir daquele momento, foi um trabalho feito diariamente para sairmos dessa situao e ns samos”.
Paulo Bracks, de 38 anos, assumiu a diretoria de futebol do Amrica em maio de 2019. Antes, foi o responsvel pela gesto das categorias de base, cargo que ocupava desde janeiro de 2018. O executivo graduado em Direito pela Faculdade Milton Campos e tem especializao em Direito Desportivo e Negcios do Esporte pelo Centro de Estudos em Direitos e Negcios (CEDIN). Tambm estudou Gesto em Futebol e Anlise de desempenho, pela Confederao Brasileira de Futebol, e fez cursos na Premier League (Inglaterra) e La Liga (Espanha).
reportagem, Bracks comentou outros temas de relevncia, como a agem do tcnico Maurcio Barbieri (antecessor de Felipe Conceio) pelo Lanna Drumond, o processo de contrataes e renovaes e a meta de potencializar a formao de jovens jogadores no clube.
Em entrevista ao Superesportes, Paulo Bracks falou sobre planejamento do Amrica (Foto: Jair Amaral/EM/ D.A Press)
ENTREVISTA COM PAULO BRACKS 6u434p
Voc assumiu em maio a diretoria de futebol do Amrica, cargo vago desde a sada do Ricardo Drubscky, no fim de 2018. Na ocasio, o clube estava na zona de rebaixamento e ainda tinha o Maurcio Barbieri como tcnico. Depois, houve a troca de comando, com a efetivao do Felipe Conceio, e a reao a ponto de se distanciar do Z4 e, incrivelmente, sonhar com o retorno elite do Campeonato Brasileiro. Como foi feito esse trabalho de recuperao?
“A gente identificou os problemas que existiam internamente no clube. Um dos problemas principais e que mereciam pronta interveno da diretoria era o resgate da confiana dos atletas. No se tratava de trocar de jogador, no se tratava de contratar ou dispensar, fazer barca, contratar nomes novos. Era resgatar a confiana do elenco que ali estava. Acredito que essa medida foi identificada como necessria e foi a primeira que a gente comeou a efetivamente ser forte nela.
Como fizemos isso? Primeiramente, com uma conversa com os atletas. ar essa confiana da diretoria aos atletas com a comisso nova, que, na verdade, no era to nova assim - e um dos motivos para ele (Felipe Conceio) ser escolhido foi o conhecimento (do elenco). amos para eles que acreditvamos neles, que o elenco estava mantido num primeiro momento at sair da situao, que no faramos nenhum tipo de mudana drstica. Eles assimilaram, entenderam e se sentiram seguros para buscar essa estabilidade. muito difcil ar segurana no futebol brasileiro com um time que est na 20 colocao da Srie B. Ou seja, as portas da Srie C estavam mais prximas. Ento, procuramos dar confiana, levantar os astral dos atletas e dizer: ‘a gente confia em vocs’. Quem vai tirar o Amrica dessa situao so vocs. Essa foi a primeira medida. A partir dela, exteriorizamos. Voc a para o grupo, o grupo acredita, voc d publicidade a essa confiana no elenco.
A partir dali, muito trabalho. E um trabalho diferente. At acredito que voc v me perguntar o porqu do Felipe. E eu te adianto: o Felipe Conceio ser, em pouco tempo, um treinador de ponta no futebol brasileiro. No tenho dvidas em relao a isso. Tem conhecimento tcnico muito grande. Ele foi escolhido por conhecer estritamente o elenco nosso, por saber as caractersticas dos nossos jogadores, saber o comportamento, o carter. Ele conhece os atletas. A escolha dele, na verdade, no foi uma escolha, e sim ele pedindo agem por conhecer o elenco. Precisvamos naquele momento de algum que acreditasse nos jogadores com os quais estvamos trabalhando. A partir daquele momento, foi um trabalho feito diariamente para sairmos dessa situao e ns samos”.
O Maurcio Barbieri j estava no Amrica quando voc foi efetivado diretor executivo de futebol profissional. Mesmo assim, acho que seja possvel uma avaliao do trabalho. Por que os resultados no apareceram?
“No participei da contratao do Barbieri, mas um treinador moderno, jovem, que teve experincias boas no Flamengo e no Gois. Ento, justificou-se a contratao dele pelo Amrica. Mas, no deu certo dentro de campo. Acredito que, quando no h total sintonia entre comisso e elenco, o resultado no o esperado. No foi por falta de trabalho ou dedicao, mas, como dizem na gria do futebol, no deu liga.
A gente entendia internamente que o perodo de intertemporada seria essencial para que essa sintonia viesse, mas no veio. Por mais que tenhamos tido bons testes, nosso retorno Srie B, que foi no jogo contra o Figueirense, escancarou que faltava uma sintonia entre elenco e comisso - no por falta de trabalho. A gente entendeu que era o momento de trocar, de fazer uma mudana mais drstica e decidimos fazer a troca da comisso.
Muita coisa mudou desde aquele jogo contra o Figueirense, que posso dizer que foi um marco, um divisor de guas para o Amrica. Se eu pudesse voltar ao tempo hoje, acho que manteria o resultado daquele jogo. Nos fez tomar decises que talvez no tomaramos se o resultado fosse outro - vitria, empate ou at mesmo derrota por um placar menor. De l para c, por exemplo, o Figueirense no ganhou mais nenhum jogo. E o Amrica tomou outro rumo na competio. Desejo muito sucesso ao Barbieri e sua comisso, de quem ficamos muito prximos, mas temos que entender que o trabalho est frente e ali era o momento de trocar”.
Quando o Felipe Conceio assumiu o Amrica, o comeo dele no foi bom. Houve dois empates e uma derrota. A diretoria chegou a cogitar nova mudana ou confiou plenamente no trabalho do treinador?
“O resultado no veio nos trs primeiros jogos, mas o desempenho melhorou muito. O comportamento dos atletas melhorou muito, dentro e fora de campo. Isso fez a diferena. No jogo contra o Vila Nova-GO, tivemos um domnio avassalador de 20 a 30 minutos. Avassalador um termo que quem usou foi o Guto Ferreira, depois do jogo contra o Sport, na Ilha do Retiro, onde ganhamos por 2 a 0 com propriedade. Ele (Guto) usou esse termo, que o Amrica foi avassalador.
Esse perodo do jogo (contra o Vila Nova) nos mostrou que o time tinha outro comportamento e estava com desempenho diferente. Nos fez acreditar que estvamos certos e o time iria para outra rota. Tanto no jogo contra o Vila, em que tivemos comportamento muito bom, quanto no jogo contra o Oeste, que no ganhamos em casa por detalhes. E o jogo contra o Atltico-GO talvez tenha sido, at ento, o nosso melhor jogo na competio. S que no fim do jogo tomamos um gol por detalhe. Ali foi o momento de juntar e unir cada vez mais, pois acreditvamos no trabalho. Era muito cedo para avaliar, mas o que tinha sido mostrado nos fazia crer que era positivo, como de fato foi”.
O bom trabalho atual do Felipe pelo Amrica despertou assdio de outros clubes?
“O Amrica no recebeu nenhuma proposta em relao ao Felipe. A cabea do Felipe est 100% no Amrica. O Felipe tem um projeto no Amrica, e o Amrica tem um projeto para o Felipe. No h nenhum tipo de desvio de foco ou assdio que possa atrapalhar o trabalho. Vejo como natural esse holofote em cima dele e do Amrica como um todo, pois o Amrica tem uma camisa muito forte na Srie B e que estava na 20 colocao.
A gente nunca pode esquecer que estvamos no fundo poo, em ltimo lugar, e vrios jornalistas, at com propriedade, disseram que era o pior Amrica que eles haviam visto jogar nos ltimos tempos, que o Amrica estava para cair Srie C e no voltaria nunca mais. Existia um fantasma muito grande, e ele foi o capito dessa nau. A gente saiu dessa situao. Samos da lanterna, da zona de rebaixamento, da parte de baixo da classificao e estamos mirando coisas maiores l em cima. Vejo como algo natural esse holofote e como algo muito positivo. O Felipe tem trabalhado em sintonia com todos, com apoio da presidncia, da diretoria, dos atletas e de funcionrios. Merece esse holofote, no cai nada no colo, muito trabalho”.
O Amrica mudou o perfil dos contratados, ando a apostar tambm em jovens valores de clubes de ponta em vez de focar exclusivamente nos medalhes. Como ocorreu essa mudana de mentalidade?
“Eu vim da base. Os nortes do trabalho so a formao e a carreira do atleta desde o sub-17 ou sub-20 at a transio para o profissional. Foi um dos nossos objetivos reduzir a mdia de idade do elenco. Posso afirmar que diretoria e comisso tcnica tm a meta de reduzir a mdia de idade. Medalhes de um lado, eficincia e produtividade do outro. Ningum joga mais com nome. Joga com eficincia e produo no dia a dia. Isso foi ntido no elenco do Amrica.
Ns estreamos na Srie B contra o Operrio com os onze iniciais com mdia de idade de 30 anos. No jogo contra o Sport, na nossa ltima vitria na Ilha do Retiro, nossa mdia era de 24. Isso uma mudana absurda, de 30 para 24. Acho que uma tendncia de trabalho, que deve ser observada pelos clubes, que tem dado certo.
O Athletico-PR campeo da Copa do Brasil tinha mdia de idade de 24 para 25 anos. Acredito nessa reduo de idade como fator de trabalho a ser observado e que tem total respaldo dessa comisso tcnica, vide a utilizao de vrios jogadores da base, que o Felipe conhecia como coordenador tcnico e auxiliar e que tm a linha da filosofia do Amrica, que de DNA formador. Acredito que seja um caminho natural.
Quanto contratao ou vinda de atletas igualmente jovens de outros clubes, a tambm por essa meta de reduo de idade, de oportunidades a jogadores com outro tipo de perfil e tambm pela captao do Amrica, que muito forte. a ainda pelo crebro da diretoria de futebol, que o ncleo de mercado e anlise de desempenho. Todos esses atletas foram monitorados. H um monitoramento de mais de 500 jogadores, que, evidentemente, no so todos que o Amrica tem poder de chegar. Mas alguns que a gente entende que, pelas caractersticas, poderia acrescentar ao elenco, foram trazidos meticulosamente por conta da idade, do perfil e das parcerias que comeamos a fazer com os clubes.
Exemplos do So Paulo e do prprio Athletico-PR. Do So Paulo vieram o Geovane e o Lucas Kal. O Lucas Kal chegou e com uma semana j teve a oportunidade de ser titular. Foi bem. Geovane chegou a ser titular, est voltando agora de leso, foi bem. So jogadores que a gente monitorou e trouxe nessas condies. O Amrica tem a vitrine desses atletas, no est desprotegido em relao ao contrato, e todos tm possibilidade de ficar aqui no ano que vem, sim. a muito por essa filosofia.
Se voc me perguntar: o que gostaria de fazer no Amrica? Eu digo que talvez seja resgatar a essncia do clube. A essncia do Amrica essa, tem o DNA formador, uma escola de formao que no pode ser desprestigiada. O resgate desse DNA essencial”.
Ao mesmo tempo em que a mdia de idade do elenco diminui, jogadores experientes como Joo Paulo e Juninho - este de grande identificao com o clube - tm se destacado. Como o clube v isso?
“Reduzir a mdia de idade no significa que abriremos mo de atletas experientes. Mas sero pontuais e com caractersticas que buscamos, sobretudo fsicas. Atleta que no consegue sustentar maior a maior parte do jogo em alta intensidade ter mais dificuldades de se encaixar no nosso sistema hoje. Esses dois que voc citou, somado a outros com minutagem grande este ano (posso citar ao menos dois: Leandro Silva e Felipe Azevedo), vo ajudar demais o Amrica demais em 2020. Se depender s da vontade da diretoria, no escondo, estaro na pauta para o ano que vem. Podero ser nossas referncias no elenco, dentro e fora de campo”.
Dois casos chamaram muita ateno no grupo principal. Primeiro, o do Jnior Viosa, que aparentemente estava fora dos planos, mas voltou e fez gols importantes na Srie B. Depois, o do Paulo, titular absoluto at receber um terceiro carto amarelo e, posteriormente, negociado por razes nas quais o tcnico Felipe Conceio preferiu no se aprofundar. Poderia explicar os episdios?
“Um dos papis da diretoria de futebol mediar solues entre elenco e comisso tcnica. Quando um treinador chega a um clube e no participa 100% da montagem do elenco, natural que um jogador ou outro no lhe agrade. Eu no digo de lado pessoal, e sim tcnico, esportivo, de caracterstica, de forma de jogar.
O que aconteceu com o Jnior Viosa foi exatamente isso. A comisso tcnica no via nele as caractersticas que gostaria de ter naquela posio. Esse conflito tivemos de mediar, pois um ativo do clube. Por outro lado, o treinador no prestigia tanto o jogador, isso acontece o tempo inteiro. Futebol isso, voc tem 30 jogadores: onze esto satisfeitos por jogar, os demais no esto. De positivo, a gente conseguiu manter o Jnior Viosa prximo de ns. A veio um papel muito bem desempenhado pelo Felipe Conceio como coordenador tcnico, pelo Luiz Kriwat gerente de futebol e por mim - alm, evidentemente, da superintendncia e da presidncia - de dar uma ateno constante e diria para um atleta que no estava nos planos da comisso tcnica, mas era um ativo do clube.
Evidentemente, quando um atleta desse nvel est desprestigiado pela comisso, ele recebe propostas. Mas tivemos o discernimento de no aceitar algumas propostas por esse atleta e fomos premiados com a reintegrao dele por uma comisso nova, que explora suas caractersticas de forma diferente da comisso anterior. Esse atleta o nosso artilheiro da competio e tambm do ano. O caso do Jnior Viosa ns ficamos muito satisfeitos de ter esse comportamento de no alijar o atleta do nosso planejamento. Ele hoje d resultado”.
Paulo, no aconteceu nada. No houve nada que pudesse ser exteriorizado ao pblico ou para a imprensa. O Paulo um jogador com currculo muito bom. um atleta que nos ajudou demais em nossa arrancada na Srie B, sob o comando do Felipe. um atleta que tem mercado. O Paulo tem contrato com o Internacional, estava emprestado ao Amrica e acontece muito isso no futebol. Quando estamos em baixa, no h tanta procura como quando voc d uma arrancada. um trabalho da diretoria tentar blindar para que esses atletas, em ascenso, no saiam do clube.
O Paulo recebeu uma proposta boa, de Srie A. A gente se sentou com o Paulo e, com muita transparncia e harmonia, acertou a sada dele. Ele saiu do CT pela porta da frente, abraando e se despedindo de todos. Eu mesmo conversei muito tempo com ele, agradeci por ter trabalhado com ele e desejei sucesso”.
O Amrica foi compensado financeiramente com a transferncia do Paulo para o Fortaleza?
“No, o Amrica no tinha vnculo do Paulo. jogador do Internacional. A proposta que veio ou pelo Internacional e depois pelo Amrica. Como o atleta foi novamente emprestado, no recebemos. Se tivesse sido vendido, a sim haveria (compensao)”.
Teve tambm o caso do Michel Bastos, que s fez um jogo pelo time. Por que, na sua avaliao, no rendeu?
“No contratei o Michel. Cheguei ao profissional, e o Michel j estava contratado. At apresentei o Michel ao lado do Willian Maranho, mas no participei das contrataes ativamente. No deu certo. Foi um relacionamento entre clube e jogador que no teve o resultado esperado. O Michel queria jogar. E o Amrica queria que ele jogasse. No faltou trabalho, empenho, dedicao. Nem dele e muito menos da comisso tcnica, sobretudo da atual, que d ateno a todos os atletas, alguns at mais que os outros pelas necessidades que tm.
No chegou ao nvel que a gente queria, e o Michel tambm entendeu que no chegaria ao nvel que queria quando assinou contrato com o clube. A resciso foi amigvel, os dois entenderam que no tinha futuro. O Michel muito lcido, tem uma carreira brilhante e entendeu que no est no nvel que queria estar. Ficamos s com lembranas do Michel por tudo que ele fez na carreira, s com imagens positivas”.
Hoje, como funciona o processo de contratao de jogadores no Amrica?
“Todas as contrataes am pelo ncleo de anlise de mercado e desempenho. A gente ouve muito nos outros clubes sobre centro de inteligncia. O Amrica j tem h muito tempo. No foi a minha subida na diretoria que trouxe esse ncleo. Esse ncleo j existia e est sendo potencializado para o ano que vem. Todas as contrataes, mesmo de jogadores de nome e com desempenho notrio, am por esse ncleo de anlise. So colhidas informaes atuais do atleta, desde peso at nmero de jogos e como foram os jogos. uma anlise completa e rpida de uma equipe que hoje tem oito analistas de mercado e desempenho. A gente fica mais seguro nessa contratao por saber como esse jogador vai chegar.
s vezes assumimos o risco que foi apresentado pelo ncleo, mas temos cincia, no somos surpreendidos por nada. Um empresrio evidentemente oferece jogadores de manh, tarde e noite, no s jogadores, como treinadores. Na demisso do Barbieri, eu mesmo recebi nomes de 32 treinadores. Mas a gente busca perfil de treinador e atleta. Esse monitoramento colocado em voga sempre que a gente pensa em um nome. Isso tem acontecido com alguns nomes recentes que foram citados aqui na minha gesto, como Geovane, Lucas Kal, Juan Boselli, e outros, que comearam o ano no clube e foram frutos da observao desse ncleo de anlise de mercado, como o Airton. O Amrica contratou no interior do Rio Grande do Sul, longe dos holofotes do mercado, mas tnhamos segurana de quem era o Airton e como era esse atleta. Ele precisava de um tempo, no chegou pronto para jogar. Foi feita uma anlise e um trabalho dirio da preparao de goleiros, da preparao fsica e da fisiologia para que a comisso tcnica pudesse contar com o jogador.
Isso tem acontecido no Amrica e a tendncia toda no ano que vem. No somos surpreendidos com o jogador que chega. Se ele chega, porque ou por vrias mos e cabeas antes de vir para o clube. Essa a nossa linha hoje: diretoria, comisso e presidncia, respaldadas pelo ncleo de anlise de mercado”.
Antes, o Amrica optava por aguardar o fim do ano para renovar contratos com os jogadores. Isso aparentemente tem mudado. J h alguma conversa em andamento?
“O elenco j est sendo montado para 2020. J esto na pauta e em andamento vrias renovaes. No comearam agora nessa sequncia positiva no. Comearam h cerca de um ms e meio a dois meses, com atletas que tm o perfil e a gente j sabe que ns vamos contar com caractersticas semelhantes no ano que vem. E atletas que so adaptados ao clube e dentro do nosso oramento, j temos planejado e rascunhado esse elenco para 2020. Os jogadores com contrato at o fim do ano, mas que esto no planejamento para 2020, todos j foram procurados. Sem criticar gestes diferentes da nossa ou at de anos anteriores, no se procura atleta no fim do ano para discutir renovao.
Podemos ter, obviamente, oramento diferente do ano que vem, que seria com o. Mas tenho que trabalhar com oramento da Srie B. E o oramento da Srie B j me permite renovar alguns contratos, seja por um salrio at maior, e fazer o planejamento, que tambm a pela comisso tcnica. No tem sido feito nada visando 2020 sem a comisso tcnica. Presidncia, diretoria e comisso tcnica: existe uma sintonia amplia desses trs setores para poder sentar e definir nomes.
Nosso planejamento j comeou em eventuais contrataes - evidentemente feito de maneira correta, que nossa linha de tica - e tambm no aproveitamento de atletas da base. Hoje temos um treinador que prestigia a base muito mais do que treinadores que vejo nas Sries A e B. Tem conhecimento muito grande dos nossos elencos sub-20 e sub-17, isso facilita muito. O Amrica tem a transio da base para o profissional de modo que a gente coloque esses atletas j com projeo para o ano que vem. Por mais que tenhamos jogo atrs de jogo, viagens, treinamentos, a pauta da diretoria de futebol profissional j faz planejamento e no quer deixar nada para o fim do ano”.
A diretoria tem sido procurada para negociar seus principais jogadores?
"Reitero, o futebol de hoje tem sido polarizado em clube vendedor e comprador. Qual clube seremos? O Amrica vem de um histrico recente de dificuldade para negociar atletas. Poucas foram as transaes, as grandes vendas, mas esse quadro j est mudando. O mercado j est identificando, e estamos vendo isso com as recentes sondagens que recebemos pelos jovens que despontam no time principal. O mercado tem uma postura reativa quando ns temos de ser proativos.
Um dos trabalhos para o fim da temporada este. Negociar atletas essencial e continuar sendo cclico. Um sai, o outro j est pronto para substituir, a roda gira rpido. Mas tem que ser de forma eficaz, sem atropelos. O DNA formador tem que funcionar assim: antes de vender um promissor, j tem que ter outro na base. o trabalho que todos no clube esto fazendo. O Cauan (Almeida) me auxiliar bastante nesse filtro e a sua ascenso para o profissional, vindo da base, tem tambm esse objetivo. A transio a engrenagem do clube”.
Qual o nvel da estrutura dos demais departamentos que atuam no futebol (mdico, fsico, fisiologia, nutrio, etc.)?
"So cinco ncleos que funcionam muito bem no Amrica. O resultado de campo tambm consequncia desses cinco: fisiologia, preparao fsica, nutrio, fisioterapia e departamento mdico. Trabalham demais e de uma forma que permite performar como est performando. Vide final de jogo contra o Sport, um reprter local questionou nossa preparao fsica, dizendo que era inimaginvel o Amrica conseguir correr 90 minutos como estava correndo. inimaginvel para quem no acompanha o trabalho dirio desses cinco. Principalmente preparao fsica, fisiologia e nutrio fazem com que o clube tenha um desempenho em alto nvel. Nossa estrutura muito boa.
A gente conta com profissionais de alto gabarito dentro do Amrica, e os nmeros mostram isso. Nmero baixo de leses e recuperao rpida de atletas. A gente teve uma leso no ombro do Matheusinho, quase que ligamentar, e o Matheusinho, com menos da metade do tempo, voltou a treinar e jogar. Isso o trabalho desses cinco setores, que s temos elogios para fazer. trabalhar cada vez mais para que eles tenham estrutura.
* DNA formador: Amrica investe na base para ter retorno tcnico e financeiro no futuro - leia neste domingo a segunda parte da entrevista de Paulo Bracks ao Superesportes