Falta de padrão
Levir Culpi foi anunciado como técnico do Atlético em 17 de outubro de 2018. De lá para cá, foram quase seis meses de trabalho. Durante esse período, o elenco teve mudanças importantes, especialmente na virada do ano. Em campo, as atuações iam do oito ao 80 em uma semana.
E essa irregularidade, especialmente em 2019 - ano em que Levir teve tempo de preparação durante a pré-temporada -, irritava torcedores e chateava integrantes da diretoria.
No Campeonato Mineiro, o desempenho agradava. Afinal, o time considerado reserva, utilizado na maior parte da primeira fase, foi bem e garantiu a primeira colocação. O problema eram as atuações na Copa Libertadores, que tem partidas, teoricamente, mais difíceis.
Na competição internacional, o Atlético não convenceu em nenhum dos oito jogos disputados. Em sete deles, o sistema defensivo - um dos grandes problemas ao longo do trabalho de Levir - foi vazado.
Taticamente, o sistema mais utilizado foi o 4-2-3-1, com variações para o 4-3-3 no momento ofensivo e para o 4-4-2 no defensivo, com Cazares e Ricardo Oliveira avançados em relação às duas primeiras linhas. As características dos jogadores utilizados é que variavam.
Nas pontas, foram testados jogadores velozes e de drible e também outros que buscam o jogo apoiado, pelo meio. No meio, nenhuma dupla de volantes se firmou - seja por lesões, seja por falta de encaixe. Ofensivamente, o time teve bom aproveitamento em bolas paradas, mas dependia muito de grandes atuações individuais de Luan, Cazares ou Ricardo Oliveira para construir jogadas pelo chão. O padrão, tão esperado, não existiu.
Erros individuais
Individualmente, jogadores experientes ou que chegaram ao Atlético com status de solução, como Igor Rabello, Fábio Santos, Elias e Yimmi Chará, por exemplo, não conseguiram, em 2019, ter o desempenho que tiveram durante a carreira. Essa queda de rendimento, naturalmente, também influencia no desempenho da equipe.
Mas não dá para atribuir as más atuações apenas a erros individuais. Falhas de jogadores durante as partidas são comuns em qualquer time. A diferença é que as equipes com bons sistemas de cobertura no momento defensivo conseguem minimizar esses equívocos. No Atlético, não era assim.
Os erros fizeram com que determinados jogadores assem a ser cobrados veementemente por torcedores. Psicologicamente, o time também sentiu em função disso. Em campo, foi evidente o abatimento dos atletas quando o Cerro Porteño fez quatro gols num intervalo de 13 minutos.
Elenco
O processo de montagem do elenco de 2019, de responsabilidade da diretoria - que negocia - e da comissão técnica - que avalia e indica jogadores -, também dificultou o trabalho de Levir Culpi em alguns momentos.
Nas laterais, por exemplo, nomes como Patric e Fábio Santos têm sido questionados. Pela direita, Guga ganhou a vaga. Na esquerda, não há substitutos à altura do titular.
No meio, os volantes são bem avaliados.
Nas pontas, se Luan não joga é um problema. Afinal, nenhum outro jogador - nem Chará, nem Bolt, nem Terans, nem Geuvânio, nem Elias - se firmou completamente no setor. No meio, Cazares, que começou o ano voando, ou a ter a concorrência mais forte de Vinicius, que entrou bem.
No ataque, a grata surpresa: o jovem Alerrandro, de 18 anos, iniciou muito bem a temporada e chegou a ser artilheiro da primeira fase do Campeonato Mineiro. O titular Ricardo Oliveira também tem bom número de gols.
Com esse elenco nas mãos, Levir não conseguiu achar um time titular e precisou, diversas vezes, testar em jogos decisivos. Querendo ou não, o técnico também é responsável pelo processo de formação do grupo de jogadores.
Mudança de humor
Quando deixou o Atlético na reta final do Campeonato Brasileiro de 2015, Levir Culpi, emocionado, disse: “No fundo, no fundo, eu gostaria que vocês (imprensa) falassem que eu sou um cara legal. É isso. Até breve”.
Não há dúvidas que Levir continua um “cara legal” em 2019. A relação do treinador com a imprensa e o cuidado com o que fala nas entrevistas, entretanto, seguramente o atrapalharam nessa agem pelo Atlético.
As brincadeiras, frequentes e elogiáveis num ambiente tão previsível como entrevistas coletivas, são elogiáveis. O problema é que, em determinados momentos, Levir Culpi não conseguia falar sério.
Diversas vezes, o técnico se esquivou de perguntas.