Volta da torcida do Atltico na pandemia provoca medo e tenso no Mineiro 281e3e

"Toma cuidado, viu?". As palavras de despedida de uma torcedora do Atltico a um amigo que se encaminharia a outro setor do Mineiro eram um sinal de preocupao e contradiziam com perfeio o que era visto a metros da esplanada, onde o dilogo ocorreu. Do lado de fora do estdio, milhares de pessoas desrespeitavam as regras de distanciamento social e, sem mscara, formavam uma aglomerao no vista h 17 meses - tempo em que os eventos esportivos no puderam receber pblico em funo da pandemia de COVID-19, que ainda aterroriza o Brasil. Nas arquibancadas, a bela festa dos 17.030 alvinegros empurrou o time na vitria por 3 a o nas quartas de final da Copa Libertadores contra o River Plate, mas provocou mais medo e tenso do que propriamente empolgao na noite desta quarta-feira.

Quem tinha ingresso precisava de um teste negativo de coronavrus para entrar no estdio. Porm, muita gente sem bilhete foi ao local para participar dos "festejos" na Avenida das Palmeiras. Era uma tragdia anunciada, mas ignorada pelo poder pblico - que no vetou a entrada daqueles que no haviam comprado os tquetes e que, obviamente, iriam ao local para matar a saudade do ambiente que no frequentavam desde maro de 2020. Tudo isso no dia em que a taxa de transmisso da doena (Rt) chegou a 1,01 em Belo Horizonte, nmero acima do ideal.

"Foi muito difcil decidir vir, porque a gente fica na corda bamba, entre a paixo pelo time e o medo da doena. Os indicadores melhoram, mas a vem a nova variante Delta, e a gente fica indeciso. Mas a gente viu que as regras estavam bem seguras, com capacidade de 30% do estdio, todo mundo de mscara e com teste. Viemos com mscara boa e empolgados. Tomamos a deciso de vir, porque a falta de um joguinho h um ano e meio est grande", disse Vtor Elias, 22 anos, funcionrio da Secretaria de Estado de Sade de Minas Gerais (SES-MG).

O jovem esteve no Mineiro naquele 7 de maro de 2020, quando o Atltico venceu o Cruzeiro por 2 a 1, pelo Campeonato Mineiro. Foi a ltima vez da torcida alvinegra no Mineiro antes da noite desta quarta. Vitor costuma ir aos jogos do time acompanhado do pai, que preferiu se resguardar, j que ainda no tomou a segunda dose da vacina contra a COVID-19. Desta vez, esteve com o colega de trabalho Lucas Arajo, de 23 anos.

H tambm aqueles que estavam h ainda mais tempo longe das arquibancadas. A estudante Maria Tereza, de 21 anos, no tinha uma boa recordao da ltima vez no Mineiro. Foi em 26 de setembro de 2019, na traumtica eliminao nos pnaltis para o Coln na semifinal da Copa Sul-Americana.

"Tem muito tempo, foi em 2019. Decidi vir de ltima hora, at hoje de manh eu no vinha, at pelo preo, que achei meio salgado, mas estou aqui. Decidi porque amo o Galo demais, estava com saudade. Estou tomando as precaues, me sentindo segura e estou aqui", disse. Ela teve a companhia de Ana Paula Furtado, Evandro Azevedo e Samuel Vieira na noite desta quarta. E deixou o Mineiro com um sentimento bem melhor que o da ltima vez.

Quem estava do lado de fora do estdio bebendo e se aglomerando contrariou tambm as orientaes para antecipar a entrada. Por isso, houve tumulto tambm na hora de ingressar nas arquibancadas.

As normas no foram seguidas nem fora e, por muitos, nem dentro do estdio. O grito em plenos pulmes de quem tanto sentiu falta de alentar o time de corao ecoava ainda mais forte, j que muita gente estava sem mscara. Vrios espaos que deveriam estar livres - por conta das regras de distanciamento - eram ocupados pelos atleticanos.

Para os titulares Everson, Nathan Silva, Junior Alonso, Matas Zaracho, Eduardo Vargas e Hulk, foi a primeira vez com a torcida nas arquibancadas. Individualmente, foram saudados com gritos de apoio dos atleticanos, que repetiram os rituais de antes da pandemia. O hino, os gritos de guerra e as provocaes ao rival Cruzeiro - que agoniza em um momento promissor do Atltico - foram emendados em sequncia antes de a bola rolar.

Quando o jogo comeou, o que se viu em campo foi uma equipe avassaladora na primeira etapa. Foram muitas as chances claras de gol at que Matas Zaracho, de voleio, e Hulk, encobrindo o goleiro Armani, fizeram explodir as arquibancadas. A vibrao alvinegra fez tremer as tribunas de imprensa do Mineiro e deu mais energia ao time.

Em momento nenhum o River Plate ameaou a classificao alvinegra. No segundo tempo, as arquibancadas foram espao de festa e pouca preocupao. Gritos de "ol" e "mais um", alm de um espetculo com as luzes dos celulares, foram frequentes. "Vou Festejar", de Beth Carvalho, foi entoada logo cedo. a msica cantada pela torcida do Atltico quando o jogo j parece decidido. E estava mesmo.