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Esses atos so sinais do aumento da intolerncia do torcedor, como aponta Bernardo Buarque de Hollanda, professor-pesquisador da Escola de Cincias Sociais da Fundao Getlio Vargas. Ele acredita que no houve exatamente um aumento dos protestos de torcedores, mas o que define como "exacerbao".
Para Bernardo, a falta de identificao entre clube, torcida e seus principais jogadores, como ocorria at os anos de 1980 com nomes como Roberto Dinamite e Reinaldo, faz com que as torcidas organizadas, aumentem o tom das cobranas quando os resultados no so satisfatrios.
"H uma expectativa a partir de um dolo que no possui histrico com o seu clube e a sua torcida, algo que vemos em Flamengo e Palmeiras, e tambm com a chegada do Daniel Alves ao So Paulo. Voc no tem mais a torcida se familiarizando com o jogador, criando laos. A torcida, ento, se sente encorajada a cobrar quando a expectativa no correspondida", avalia Bernardo.
Se enxergando como foras fiscalizadoras, as torcidas organizadas buscam exibir suas reivindicaes em diferentes cenrios, at como uma demonstrao de fora e presena. "O que tem ocorrido a tentativa de ocupao de todos os espaos pelas organizadas, entendendo que o time uma propriedade deles por acharem que so eles que se sacrificam, vo para todos os lugares, perdem emprego e at brigam com a famlia pelo clube", afirma.
Mas no estaria apenas nessa mudana da identidade do futebol nacional - e mesmo da cultura - a intensificao dos protestos dos torcedores. Para Bernardo, a deciso de proibir a presena de torcidas organizadas nos estdios, vista por autoridades como medida para conter a violncia, as leva para outros cenrios, tornando incua a iniciativa. "A proibio das organizadas est radicalizando essas torcidas, que no sumiram e esto clandestinamente nos jogos, mas intensificam a vigilncia fora do estdio, migrando para outros espaos", diz, lembrando que as principais organizadas dos maiores clubes do Rio esto proibidas de frequentar estdios.
Murad tambm acredita que as punies no surtem os efeitos esperados. Ele aponta que o universo das torcidas organizadas envolve entre 2 milhes e 2,5 milhes de pessoas. Dentro desse grupo, aqueles que cometem atos criminosos so uma parcela pequena e que fica livre quando as sanes so coletivas. "Se eu puno todo mundo, no puno quem deveria ser punido de fato. a minoria que precisa ser alcanada pela lei", comenta.
Advogado da Associao das Torcidas Organizadas do Brasil (Anatorg), Renan Bohus alerta para outro risco da proibio das organizadas. Para ele, o ato de torn-las ilegais interrompe o contato com os clubes. E um reflexo dessa falta de interao seriam protestos mais violentos. "Quando voc criminaliza, no h mais dilogo com os clubes. E a torcida se torna mais incisiva. Quando no h conversa, muito recorrem a atos de violncia, como a invaso de CTs", afirma.
Asfixiadas dentro dos estdios, as organizadas tambm tm buscado outros locais para exibir a insatisfao com a irregularidade de seus clubes. E se aproveitam de esquemas menos complexo de segurana - ou mesmo inexistentes - para se aproximar de jogadores em aeroportos e na sada de centros de treinamentos. "O monitoramento da polcia ainda precrio, informal, e a o torcedor se sente com mais possibilidade de interagir com o torcedor, fazendo algo mais truculento e intimidatrio, com o uso da fora fsica", conclui Bernardo.