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Outro caso emblemtico aconteceu em So Paulo com o palmeirense William De Lucca no ano ado. Na partida entre Palmeiras e So Paulo, esse jornalista de 34 anos se sentiu ofendido por um cntico homofbico de sua prpria torcida e registrou sua indignao no Twitter. A repercusso foi imediata: mais de 25 mil reaes. Nos meses seguintes, ele contou 37 ameaas de morte na internet. Por recomendao da PM, ficou trs partidas sem ir ao estdio, mas confessa que as ameaas continuam. "Existem muitas pessoas LGBT nos estdios, mas elas tm de ser invisveis", diz William, que se assume homossexual.
O Estado percebeu como os torcedores LGBT buscam o anonimato no futebol durante a produo desta reportagem. Dos oito torcedores que haviam confirmado presena em uma sesso de fotos no Allianz Parque, s um foi.
A homofobia no est presente apenas nos atos explcitos de violncia. Na tese de mestrado "Pelo direito de torcer", o historiador Maurcio Rodrigues Pinto e a pesquisadora Aira Bonfim destacam o discurso preconceituoso. "Ofensas como ‘bambi’, ‘maria’ e ‘galinha’ ou os gritos de ‘bicha’ so interpretadas como piadas ou brincadeiras, mas ningum aceita para si", diz o especialista da USP.
Os episdios individuais de homofobia comearam a se condensar em aes coletivas a partir de 2013 nas torcidas livres. A Galo Queer foi a primeira. A expresso "Queer", que significa "estranho e excntrico", era um xingamento que foi apropriada pelos ativistas. Em So Paulo, o coletivo mais relevante a Palmeiras Livre, do qual William De Lucca foi um dos fundadores. A pgina se apresenta como "movimento antihomo e transfobia, contra racismo e todo tipo de sexismo destinado torcida que mais canta e vibra". Hoje, so 10.612 seguidores no Facebook. "Essas torcidas no tm propsito de ir ao estdio coletivamente, mas sim trazer o debate", diz a professora Luiza Aguiar dos Anjos, colaboradora da Galo Queer.
Ao Estado, a PM afirma que "est disposio dos representantes das torcidas organizadas de todo e qualquer grupo social para promover a participao segura e de acordo com a lei".
Sadas 48571h
O livro "Bicha - homofobia estrutural no futebol", do jornalista Joo Abel, do Estado, mostra iniciativas que vo alm do futebol profissional. Uma delas a criao de um time de futebol amador formado por homens transexuais.A maneira como cada torcedor se comportou aps os episdios de homofobia indica as estratgias das torcidas livres. William criou a plataforma "Eu sou, eu toro" para dar visibilidade e voz a torcedores LGBTs. ou a ter atuao poltica e defende a adoo de polticas pblicas para a diversidade e a criminalizao da homofobia.
O cruzeirense Yuri transformou o vdeo homofbico em forma de declarao de amor ao namorado. O casal tambm abriu uma ao judicial por homofobia na Delegacia de Crimes Cibernticos de Belo Horizonte contra os agressores mais raivosos. Aps o episdio, Yuri foi convidado para prestar consultoria ao Mineiro em aes de combate homofobia. O estdio realizou trs cerimnias de casamento de casais homoafetivos e costuma ser iluminado com as cores da bandeira LGBT. Yuri tambm criou a torcida Marias de Minas, com 100 cruzeirenses. Maria a maneira como os atleticanos se referem aos cruzeirenses quando querem xing-los e ofend-los.