Taa erguida: momento de euforia de jogadores, comisso tcnica e de uma nao de cruzeirenses (Foto: Cruzeiro/divulgao)
Torcedor cruzeirense: prepare-se para matar saudade de uma das geraes mais vitoriosas da histria do clube. Do esquadro temido em territrio nacional e no continente sul-americano. Da histria que comeou a ser desenhada l em 1991, com a conquista da primeira Supercopa, ou por Copa do Brasil (1993 e 1996) e chegou Libertadores da Amrica de 1997 – o ponto alto daquela dcada. No prximo domingo, ser comemorado o 20 aniversrio do segundo ttulo celeste do mais importante torneio de futebol das Amricas. Para Nonato, Marcelo Ramos, Palhinha, Gottardo, Ricardinho, Elivlton e companhia, h um sentimento em comum: parece que tudo aconteceu ontem e ou num piscar de olhos.
Mas o tempo implacvel. No para. Resta aos heris daquela conquista – que esto na faixa etria de 40 anos – relembrar cada detalhe. A comear pelo incio difcil: a Raposa perdeu os trs primeiros jogos do Grupo 4 – 2 a 1 para o Grmio, no Mineiro; e 1 a 0 diante dos peruanos Alianza Lima e Sporting Cristal, em Lima. Veio ento um pacto para a superao, conforme revelou o ex-lateral-esquerdo Nonato. “O Paulo (Autuori, que havia substitudo Oscar Bernardi no comando tcnico na segunda rodada) nos chamou para uma reunio, e todo mundo falou: ‘num grupo de quatro, a gente ficar fora para dois clubes peruanos no tem a mnima condio. Temos que dar um jeito de vencer. Se a gente se classificar, vamos chegar final e ser campees’”.
Capito Wilson Gottardo ergue a taa (Foto: Cruzeiro/divulgao)
A arrancada celeste comeou com vitria por 1 a 0 sobre o Grmio, no Olmpico, em 12 de maro. Seis dias depois, a vtima foi o Alianza Lima: 2 a 0. Em 11 de abril, mais um triunfo, dessa vez contra o Sporting Cristal: 2 a 1. O Cruzeiro terminou o Grupo 4 na segunda posio, com nove pontos. E de acordo com o regulamento da Libertadores, os trs melhores de cada uma das cinco chaves se classificavam para as oitavas de final. O River Plate – campeo da edio de 1996 – estava garantido automaticamente no mata-mata.
Nos confrontos eliminatrios, veio o drama dos pnaltis. Mas drama para quem? S se for para os adversrios. Porque o Cruzeiro tinha Dida, especialista no assunto. Com 1,96m de altura e 2m de envergadura, o goleiro encaixou a cobrana do equatoriano Chal, do El Nacional, e garantiu a vitria estrelada por 5 a 3. O time ou pelo Grmio nas quartas de final no tempo normal, mas nas semifinais voltou a decidir a vaga no tiro de 11 metros. Dida defendeu dois arremates dos chilenos Basay e Espina, do Colo Colo, e facilitou a vida dos batedores cruzeirenses Ricardinho, Donizete, Fabinho e Marcelo Ramos, que fecharam o placar em 4 a 1.
“Com o Dida ao nosso lado, a confiana aumenta tambm. Ele estava numa fase espetacular, vinha de algumas conquistas em que se destacou muito tambm e com certeza o clima era favorvel para a gente na batida dos pnaltis, a confiana era grande. E os nossos batedores eram jogadores experientes, maduros e se prepararam para os pnaltis”, declarou o zagueiro Clio Lcio.
Deciso contra um desconhecido
Na final, o Cruzeiro lidaria com um velho conhecido, o Sporting Cristal, que deixara pelo caminho os tradicionais argentinos Vlez Srsfield e Racing, alm do “encardido” boliviano Bolvar. Pela representatividade do time mineiro no cenrio sul-americano, o favoritismo era amplo. Contudo, ningum disputa final de Copa Libertadores em vo. o que pensa o zagueiro e capito Wilson Gottardo. Ele disse que o time peruano sempre foi tratado com respeito pelos cruzeirenses.
“No considero assim. No h como um azaro chegar final. Ele pode ser considerado um azaro pela opinio pblica e torcida. Mas no pensvamos assim. O Sporting Cristal chegou final por mritos. Eles tinham bom estdio, estrutura muito legal, faziam um trabalho srio e contavam com bons jogadores. O brilho da nossa vitria foi intenso. O que poderia gerar uma cobrana maior o fato de o time deles, historicamente, no ter tradio. Se perdssemos, seria um prejuzo absurdo. Nesse confronto, o peso maior estava sobre o Cruzeiro. Uma derrota do Sporting Cristal seria mais normal que uma derrota do Cruzeiro”.
Elivlton: 'O que importa que meu nome est gravado na histria do Cruzeiro Esporte Clube' (Foto: Estado de Minas/Arquivo )
A deciso reservou dois cenrios. Na ida, no Estdio Nacional de Lima, os clubes fizeram jogo aberto e criaram boas chances. Aos 17min do primeiro tempo, Palhinha chegou cara a cara com o goleiro Julio Cesar Balerio, mas bateu contra o peito do adversrio. O camisa 1 do Cristal ainda evitou que uma finalizao de Marcelo Ramos ganhasse as redes. Na volta, em 13 de agosto, o confronto ficou mais tenso. E foram os peruanos que tiveram a grande oportunidade, aos 20min do segundo tempo. Solano cobrou falta e Dida deu rebote. Na sobra, Julinho teve tudo para fazer o gol, mas o goleiro do Cruzeiro conseguiu se recuperar e defendeu com a perna direita. Dez minutos depois, Elivlton se eternizou como protagonista e marcou, num chute despretensioso, o gol do ttulo.
“Estava no auge da carreira em 1997 e fui o felizardo de ter marcado o gol com a perna direita. De onde sobrava eu chutava. No tinha medo. No quero nem saber se o goleiro cooperou. O que importa que meu nome est gravado na histria do Cruzeiro Esporte Clube. Marcar um gol na final da Libertadores, todo jogador sonha com isso! O Cruzeiro um clube que eu iro muito. Tenho muito orgulho de ter feito aquele gol”, lembrou o ex-meio-campista, que vestia justamente a camisa 20 – nmero alusivo data comemorativa.
Depois do ttulo de 1997, o Cruzeiro participou de mais nove edies da Copa Libertadores. Em 2009, esteve perto do tricampeonato, mas decepcionou os mais de 60 mil torcedores no Mineiro e perdeu do Estudiantes por 2 a 1, de virada, na deciso – na ida, em La Plata, houve empate por 0 a 0. Em 2015, a trgica eliminao para o River Plate, tambm no Gigante da Pampulha, est at hoje engasgada nos coraes dos cruzeirenses. O time ganhou na Argentina por 1 a 0, porm foi goleado em casa por 3 a 0. A cada tentativa frustrada de reconquistar a Amrica, a certeza de que o feito de 20 anos merece ser motivo de orgulho at os dias atuais.
“Meus netos vo saber quem eu sou por ser vencedor, por ter ganhado um ttulo no Cruzeiro, um clube grande. No dinheiro, status, o trabalho muito bem feito que fizemos”, exaltou o ex-armador Palhinha, que, poca, foi negociado com o Mallorca, da Espanha, por US$ 1,5 milho.
“Eu tinha 20 anos na poca. Voc no v a dimenso daquele ttulo, n?! Voc est ali jogando, se divertindo, e de repente se depara com um campeonato to importante como a Libertadores... a gente tinha um time bastante unido e conseguimos ganhar. Voc v a dificuldade que : o Cruzeiro tem quase 100 anos e s tem dois ttulos da Libertadores. um ttulo que todo mundo procura. Graas a Deus deu certo naquele ano”, destacou o volante Ricardinho, recordista de ttulos na histria do Cruzeiro, com 15 taas oficiais.
O ex-atacante Marcelo Ramos, que voltou ao Cruzeiro aps perodo no PSV Eindhoven da Holanda, foi inscrito apenas na segunda fase. Ainda assim, encerrou o torneio como artilheiro do elenco, marcando quatro gols. Quinto maior artilheiro da histria da Raposa, com 163 gols, Marcelo falou sobre a importncia do trofu.
"Muda muito, tanto que hoje estamos comemorando 20 anos da conquista do maior ttulo da Amrica do Sul. Hoje obsesso dos clubes. Na nossa poca era importante, mas sabamos que, se conquistarmos aquele ttulo, entraramos para a histria, j que tinha 21 anos que o Cruzeiro no levava uma Libertadores. Hoje estamos vendo a dificuldade que classificar para a competio, e mais difcil ainda ganhar. A valorizao ainda muito grande. No para qualquer jogador. Me sinto muito honrado de fazer parte da histria do Cruzeiro, ainda mais por essa taa, que representou muito para os jogadores, levando em conta o incio, as dificuldades do jogo contra o Grmio, Colo Colo, quando ganhamos nos pnaltis, levamos porrada (risos). Falo assim, mas a violncia no existe. Os caras que no aceitaram perder em casa. Ali mostramos a unio que a equipe tinha”.
Colaboraram: Guilherme Macedo, Matheus Adler, Thiago Madureira e Tiago Mattar
Fotos da campanha do Cruzeiro na Libertadores de 1997 3q4g1m