Libertadores 1997
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Bastidores da Libertadores e do Mundial 97: Ricardinho, Nonato e Clio Lcio na ntegra 3y1e6o

Ttulo do Cruzeiro completa 20 anos neste domingo, 13 de agosto j461h

postado em 13/08/2017 08:04 / atualizado em 13/08/2017 20:10

Leandro Couri/EM/D. A Press
Na Toca da Raposa I, histrico centro de treinamentos do Cruzeiro, os campees Ricardinho, Nonato e Clio Lcio concederam entrevista exclusiva ao Superesportes e ao Estado de Minas e contaram em detalhes os bastidores do ttulo da Copa Libertadores de 1997. Da pr-temporada com Oscar Bernardi ao momento em que o capito Wilson Gottardo ergueu a taa, em 13 de agosto, clube viveu turbulncia, precisou trocar o comando e se reforar. O trio tambm revela ao torcedor histrias engraadas de um grupo muito unido. Por fim, eles fazem uma anlise da preparao malsucedida para o Mundial de Clubes no Japo, onde o Cruzeiro acabou perdendo o ttulo para o Borussia Dortmund da Alemanha em 2 de dezembro: 2 a 0.

A playlist a seguir tem 11 vdeos exclusivos:


Vinte anos se aram desde aquela conquista e a impresso de que a dimenso do ttulo fica ainda maior a cada ano que a. Vocs pensam dessa maneira?
Nonato: " porque no momento em que voc ganha um campeonato importante igual aquele, voc no... tipo assim... no cai a ficha que vai ficar marcado para o resto da vida na histria do clube. A vai ando o tempo, a cada ano a imprensa ligando para voc dar entrevista, a cada aniversrio, ento isso muito gratificante para a gente."
Ricardinho: "Eu tinha 20 anos na poca. Voc no v a dimenso daquele ttulo, n?! Voc est ali jogando, se divertindo, e de repente se depara com um campeonato to importante como a Libertadores... a gente tinha um time bastante unido e conseguimos ganhar. Voc v a dificuldade que : o Cruzeiro tem quase 100 anos e s tem dois ttulos da Libertadores. um ttulo que todo mundo procura. Graas a Deus deu certo naquele ano."
Clio Lcio: "A gente estava numa poca do Cruzeiro que ganhava ttulo todo ano. Supercopa, Copa do Brasil... ento, no instante em que a gente ganha a Libertadores, a gente acha que mais um ttulo normal da carreira. E no assim. E am os anos, e a a gente valoriza mais a importncia desse ttulo. Ficaremos marcados nas pginas do Cruzeiro pelo resto da vida, por um ttulo difcil de ser conquistado. E a valorizao aumenta com o tempo. Quanto tempo o Cruzeiro... se est fazendo 20 anos dessa conquista, a gente v como difcil conquistar uma Libertadores. A importncia, a cada dia que a, maior."
Depois da conquista da Libertadores, o que mudou na vida de vocs jogadores?
Nonato: "Eu cheguei mais cedo (ao clube), o Ricardinho ainda era da base. A gente comeou a impor um certo respeito na vida do Cruzeiro a nvel internacional quando ganhamos as duas Supercopas. So dois ttulos internacionais. Em 93 veio a Copa do Brasil. Em 95 veio a Copa Master e a Copa Ouro. Ali os clubes da Amrica do Sul comearam a ver o Cruzeiro com outros olhos. Depois, com a conquista da Libertadores, o respeito foi maior. A s foi crescendo a cada ano, cada vez mais. O Cruzeiro foi bicampeo brasileiro, ganhou a Trplice Coroa, o respeito s foi aumentando."
Ricardinho: "Quando voc ganha uma Libertadores, tudo muda. Em termos de contrato, de respeito, com a imprensa, com a torcida, outros jogadores de outros clubes te veem de outra maneira. um clube bem significativo em nvel internacional. Isso fica marcado no jogador, e com certeza eleva seu patamar. A gente s v depois que para de jogar futebol. Por onde voc a – s vezes a gente vai para o exterior –, e o pessoal sempre fala da Libertadores e sabem que o Cruzeiro ganhou a Libertadores. Ento gratificante, e o respeito muito maior."
Clio Lcio: "Como eu trabalho na base e a gente viaja muito para o interior e outros estados do Brasil, a gente v esse carinho especial do torcedor. O torcedor vem, abraa, s vezes chora, at emocionante para a gente. Isso nos d alegria maior, porque ficamos marcados no Cruzeiro para sempre. No tem preo essa conquista da Libertadores. Conseguimos muitos ttulos na dcada de 1990, mas a Libertadores marcou positivamente."
O Cruzeiro tinha um time copeiro, que havia conquistado Supercopa e Copa do Brasil com uma base semelhante da Libertadores. Qual o peso disso para o ttulo de 1997?
Nonato: "Sem dvidas pesou. Mas os reforos que vieram ajudaram muito tambm. Vitor, bicampeo mundial e da Libertadores. Palhinha tambm, Ailton, Wilson Gottardo – que havia sido campeo brasileiro em 1995 com o Botafogo. Quer dizer, isso deu um e maior. Uma coisa reforar o elenco por reforar. Quando voc traz jogadores de peso diferente. Isso foi importante. Perdemos a primeira para o Grmio, no Mineiro, e as outras duas para o Alianza e o Sporting Cristal. Na volta tnhamos de ganhar as trs. Se no me engano fazia 50 anos que o Cruzeiro no ganhava do Grmio no Olmpico. E ns conseguimos ganhar do Grmio. E ganhamos aqui do Alianza e do Sporting Cristal e conseguimos nossa classificao."
Ricardinho: "Jogar ao lado de caras vencedores une muito o grupo. O fato de os caras que vieram de So Paulo j terem conquistado ttulos expressivos, e os do Cruzeiro tambm – Supercopa, Copa do Brasil – e o Paulo Autuori era um cara que agregava muito tambm, ou muita confiana para o elenco produzir o mximo. Quando voc est com jogadores que gostam de ganhar a partida, que gostam de ser campees, tinha que dar liga, tinha que dar certo. Entrvamos em cada jogo com vontade de crescer. Foi assim at o final."
Clio Lcio: "Essa questo tambm vlida no futebol. Existem atletas e existem atletas vencedores. O Ricardinho falou bem, o Nonato tambm. No grupo do Cruzeiro houve isso. Trouxe o Vitor, campeo de tantas competies no So Paulo; j tinha o Nonato aqui, campeo de quase tudo tambm; o Ricardinho... agrupou muito o elenco. Fizemos uma fase inicial terrvel, mas, pela experincia dos atletas, o time no se abateu e conseguiu a classificao. Da para frente houve o crescimento normal, n?! A se define com experincia e com tcnica de cada jogador que a gente tinha. E h uma questo muito importante na Taa Libertadores, que a competitividade. O Cruzeiro conseguiu reunir atletas tcnicos e competitivos. Isso foi primordial para a conquista desse ttulo em 1997."


Qual o papel do tcnico Paulo Autuori na recuperao do Cruzeiro no torneio?
Nonato: "A importncia do Paulo foi fundamental. Estreamos no Campeonato Mineiro, se no me engano, contra o Guarani de Divinpolis. A na quarta-feira perdemos para o Grmio e o Oscar foi mandado embora. Veio o Paulo Autuori. Tivemos dois jogos seguidos fora pela Libertadores e perdemos os dois. Ali foi fundamental. O Paulo nos chamou para uma reunio, e todo mundo falou: ‘num grupo de quatro, a gente ficar fora para dois clubes peruanos no tem a mnima condio. Temos que dar um jeito de vencer. Se a gente se classificar, vamos chegar final e ser campees."
Ricardinho: "Naquela poca houve dois fatos interessantes para mim. O Paulo Autuori um cara que sabe levar bem o grupo, conversa bem e a motivao. E os jogadores experientes que a gente tinha na poca tambm: Nonato, Gottardo, Palhinha... esses caras sabiam ler muito bem os jogos. s vezes voc estava numa situao difcil no jogo e esses caras conseguiam ajeitar o time dentro de campo. E interessados em ganhar, no somente em jogar. Sempre avam essas coisas para ns jovens. Aliando isso tudo, o time deu liga depois que ou da primeira fase. A gente tambm tinha o Dida, que era um cara fantstico e que fazia a diferena. No s ele, como outros setores faziam a diferena. Juntando tudo isso, o mais interessante que todos queriam vencer. Quando todos querem vencer, voc consegue algo relevante. Foi o que aconteceu na poca."
Clio Lcio: "Mudana de treinador geralmente faz mudana diferente. Com o Paulo no foi diferente. Ele trouxe as ideias novas dele, a equipe soube assimilar o que queria e graas a Deus j conseguimos as vitrias assim que ele chegou. A volta a confiana novamente. A a equipe comeou a ter confiana, acreditou mais no trabalho do Paulo e consequentemente vieram as vitrias e a classificao. Quando ou pelo mata-mata, a j uma caracterstica pura do Cruzeiro: um time competitivo, com grande rotatividade nessa questo de mata-mata, ento as coisas foram dando certo, foram caminhando, e conseguimos chegar a essa final e conquistamos esse ttulo que marcou muito e no vamos nos esquecer nunca."
Ricardinho: "Em 1996 havamos sido campees (da Copa do Brasil). O time estava muito bem, estava entrosado, e a gente comeou 1997 no to bem depois do Campeonato Mineiro e ando pela Libertadores. Ento alguma hora tinha que dar certo, alguma hora o time tinha que encaixar. A gente estava propenso a isso. Assim que o Paulo chegou, a gente ajeitou a equipe e conseguiu a sequncia na Libertadores."

Ricardinho, como foi para voc tendo apenas 21 anos participar de uma deciso to importante pelo Cruzeiro?
"Tive muita sorte de ter comeado aqui com o seu nio Andrade e no meio de vrios jogadores importantes. Tinha o Toninho Cerezo, o Luisinho, o Eder, o Paulo Roberto... eu entrei no elenco nessa poca. Eram jogadores experientes, que avam coisas positivas para a gente. E assim que comecei a jogar na equipe principal, recebia muitos conselhos de jogadores que estavam jogando. E assim que entrei no time, conseguimos ser campees do Mineiro e da Copa do Brasil. Isso aumenta a confiana. E voc encaixar no meio de tantos jogadores importantes num clube importante como o Cruzeiro te faz criar uma responsabilidade e uma maturidade muito grandes. Quando voc comea a vencer, voc tem o gosto e no quer parar mais. Foi em cima de tudo isso que eu consegui aos poucos ter essa maturidade e ganhar boa sequncia."
E a lida com a condio de favorito contra o Sporting Cristal?
Nonato: "Minha maior preocupao era justamente isso: o fato de sermos favoritos demais. A gente tinha obrigao de ganhar, pois nenhum clube peruano foi campeo da Libertadores – principalmente naquela poca. Hoje a facilidade (para os clubes pequenos) maior, a parte fsica toma conta e voc consegue dar uma nivelada por a. Mas naquela poca no, naquela poca um time brasileiro contra um time peruano a obrigao de vitria era de 99%. E o jogo no foi to fcil, a gente no teve muitas chances de gols. Aos 27, se no me engano, teve aquela falta que o Solano bateu, o Dida soltou e depois o Julinho chutou e o Dida conseguiu defender com o p. Ento a maior dificuldade minha foi o favoritismo. Aquela presso de ser obrigado a ganhar foi o mais complicado."
Ricardinho: "Assim que conseguimos ar pelo Colo Colo veio aquele favoritismo natural, pois era um clube brasileiro contra um peruano. A gente se sentiu pressionado sim. Acho que no primeiro jogo at jogamos melhor l no Peru, mais dentro do que a gente estava prevendo. Acho que aqui dentro estvamos mais ansiosos..."
Nonato: "Poderamos ganhar em Lima, tivemos mais chances de ganhar l do que aqui."
Ricardinho: "L a gente se sentiu mais confortvel para jogar melhor e ganhar o jogo. Aqui eu no sei se foi ansiedade ou presso, a situao toda do jogo, a gente no jogou o que vnhamos jogando durante toda a competio. Naquele jogo no fizemos um jogo para chegar realmente e ser campeo. Depois fizemos o gol e melhorou a situao."
Clio Lcio: "Tivemos uma situao parecida na final do Campeonato Mineiro de 1997, que foi contra o Villa Nova. Foi mais ou menos parecido com a final da Libertadores, em que ramos considervamos favoritos, mas sabamos do grande adversrio do outro lado. E a presso veio toda em cima da gente. Para mim, pessoalmente, o jogo mais difcil da minha carreira foi contra o Villa, em termos de responsabilidade e presso que vm toda em cima da gente. E na Libertadores, como disseram Nonato e Ricardinho, a gente se sente mais vontade jogando fora de casa, pois a presso da torcida fica para o adversrio. Quando a gente joga em casa, com o torcedor todo ao nosso lado, a presso vem para o nosso lado tambm. H essas situaes que precisamos saber istrar. S a gente que esteve l que sabe como difcil jogar sob presso. Mas graas a Deus tudo correu bem e conseguimos o resultado."

O fato de o Cruzeiro j ter conhecido o Sporting Cristal na fase de grupos contribuiu para que o elenco no deixasse subir cabea o favoritismo colocado pela opinio pblica e pela prpria histria dos clubes na Libertadores?
Clio Lcio: "Eu no pensaria desse jeito (que o Cruzeiro teria facilidade). A Libertadores totalmente diferente. Equipes de menos expresso chegam e so campes. Eu, propriamente, no pensei. E a equipe era madura, estava preparada para isso. Tanto que Ricardinho e Nonato falaram que l tivemos mais chances, mas a gente sabia que aqui eles tinham capacidade de inverter. A presso viria toda para o nosso lado e isso faz diferena. Voc joga em casa e tem o apoio da torcida, mas a cobrana tambm maior. A gente soube istrar isso, a questo do respeito foi grande e creio que por esse respeito conseguimos o bicampeonato."
Qual o caso engraado mais marcante do time de 97?
Nonato: "O caso mais marcante do Donizete (Oliveira). Chamamos ele de ‘sabicho’. Ia falar de carro, ele entendia; de msica, ele entendia; de avio, ele entendia... ele entendia de tudo. E era metido, hein?! Disse assim: ‘quero ver amanh! Quero ver quem vai ralar amanh!’ A eu falava assim: ‘Donizete, tomou a bola? Na hora que voc ver Nonato ou o Palhinha, voc toca. E volta para marcar depois. S isso que voc tem que fazer!’. A ele dizia: ‘T bom! Ento monta um time com s Nonato e Palhinha’. A eu respondia: ‘No, meu filho, cada um tem que saber a sua funo. E sua funo correr, tomar a bola e entregar para mim ou para o Palhinha. Deixa que o resto a gente resolve. Que a o Palhinha vai meter a bola no Marcelo na cara do gol, que a tudo vai dar certo’. O cara que a gente mais zoava era ele. Teve um episdio da discusso do tnel do vestirio (do Estdio Nacional de Santiago), a a gente j estava no vestirio e ele comeou a discutir com o Basay (atacante do Colo Colo). Os dois saram na porrada, s estava ele e a ele apanhou um bocado."
Clio Lcio: "Foi legal, que a a gente viu se ele era macho ou no (risos). Essa questo de ser sabicho, a gente at brincou com ele: ‘voc no bate em todo mundo, voc no era o cara">
O Cruzeiro enfrentou duas disputas de pnaltis e tinha o Dida, um grande especialista em defender cobranas. Isso deu confiana?
Ricardinho: "Em pnaltis a parte psicolgica fundamental nessa situao. Lembro-me especificamente daquele jogo contra o Colo Colo, em que estvamos nas semifinais. Foi para os pnaltis. Lembro-me que eu era o primeiro a cobrar o pnalti. Daquele tempo at chegar o primeiro a cobrar, o juiz tem que falar com torcida, no sei o qu, e a voc fica um minuto antes de cobrar o pnalti. Voc caminhando do meio do campo at chegar para cobrar o pnalti, se pensar muita coisa, no sabe onde chuta a bola. A gente tinha um time bem treinado e um excelente goleiro. Na ocasio, todos fizeram os pnaltis e o Dida defendeu bem. Conseguimos ir para a final."
Clio Lcio: "Com o Dida ao nosso lado a confiana aumenta tambm. Ele estava numa fase espetacular, vinha de algumas conquistas em que se destacou muito tambm e com certeza o clima era favorvel para a gente na batida dos pnaltis, a confiana era grande. E os nossos batedores eram jogadores experientes, maduros e se prepararam para os pnaltis."

Qual a lembrana de cada um sobre o gol do Elivlton?
Nonato: "Quando tem que acontecer, no tem jeito. J estava no certo tempo do jogo, e o batedor oficial de escanteios era o Palhinha. Eram trinta e poucos minutos do jogo, e o Palhinha estava do outro lado. A pensei: ‘no vou esperar o Palhinha sair do outro lado para bater o escanteio. Eu mesmo vou bater’. E sendo sincero: no foi um escanteio bem batido. A bola viajou demais, viajou muito. A o zagueiro tira e a bola sobra para o Elivlton, que nunca tinha dado um chute de perna direita, e ele acerta o chute de perna direita. Teve uma ajuda do goleiro, que dava para defender."
Clio Lcio: "Eu acabei vendo do banco, pois no joguei na final. Foi na diagonal para a esquerda, o banco ainda era baixo. S me lembro que o Elivlton chutou, a torcida vibrando, a bola entrando... o Teotnio, que era nosso massagista, abraando todo mundo, foi aquela festa. No deu para ver o lance com a bola chegando ao gol. S vi o Elivelton chutando e depois o pessoal correndo e se abraando. Era a concretizao da vitria."
Ricardinho: "Eu tinha acabado de ser substitudo pelo Da Silva, que entrou no meu lugar. Estava chegando ao banco quando aconteceu o lance. Quando virei, teve aquela exploso do gol, todo mundo correndo. Eram 30 minutos (do segundo tempo). Foi marcante. Quando para ser campeo..."

Existia um pacto para tornar o ambiente mais agradvel? Muito se comenta que vocs dividiam a premiao em dinheiro com os funcionrios do clube...
Nonato: "Quando comecei a fazer parte da liderana do Cruzeiro, no apenas pelo fato de eu ser o capito, disse que a gente no precisa s dos jogadores. A gente precisa daquele cara que corta a grama, da cozinheira... ento criei uma caixinha que em cada jogo que a gente ganhava, a gente pegava 5% do bicho de cada jogador e distribua para quem no fazia parte. A gente sabia que para o roupeiro e para o massagista um bicho de uma competio feito a Libertadores poderia ser 10 vezes o salrio deles. A gente jogava por eles tambm."
Ricardinho: "Foi bacana a iniciativa na poca feita pelo Nonato. Individualmente, falvamos com o roupeiro: ‘se eu fizer o gol, te dou tanto’. Isso cria uma energia positiva, todo mundo querendo vencer. importante e nos torna mais fortes. Foi o que aconteceu."
Clio Lcio: "At hoje tem um funcionrio aqui (na Toca da Raposa I) da nossa poca. Quando cheguei em 2011, ele veio e me deu um abrao. Eu no estava lembrando muito porque ele chegou em 1996 ou 1997. Mas a ele falou esse detalhe: ‘poxa, na poca de vocs era muito bom, pois a gente ganhava um bichinho, vocs contribuam com a gente’. Isso me deixou muito feliz. Quando voc valoriza todos – no s da comisso de futebol –, de todas as reas que a Toca tem, as coisas boas comeam a acontecer. Nada por acaso. Todos os ttulos que a gente ganhou no foram por acaso. A Libertadores no foi por acaso. Costumo dizer que as conquistas a gente fez por merecer. s vezes a bola bate na trave e influencia. um todo. A as pessoas falam: ‘mas foi muita coincidncia, vocs ganharam trs jogos depois’. Tinha que ser assim. A gente fez por merecer, estvamos fazendo alguma coisa de bom. E o grupo era compromissado, srio, com jogadores experientes e todos em busca de um s objetivo. No tinha vaidade, deixamos para trs, ramos jogadores maduros e acostumados a ganhar ttulos em outros clubes e no prprio Cruzeiro. Era um time humilde e com objetivo de ganhar mais um ttulo no Cruzeiro."
Nonato: "Tanto que no tinha esse negcio de vaidade que no sbado, no tradicional racho, tinha o time dos paulistas contra o time do Nonato. A era Vitor, Palhinha, Ailton, Donizete, Gilmar... todos no mesmo time. No tinha esse negcio de vaidade. Quem estava de fora poderia achar: ‘poxa, olha l, est tendo rivalidade’. No, era numa boa. Quando terminava, na hora da concentrao, um zoava o outro: ‘olha l, a quarta que o seu time perde direto’. Tudo numa boa."

Nonato, voc comeou a Libertadores como capito, mas perdeu a faixa para o Gottardo. Houve algum tipo de ressentimento?
"O lance foi o seguinte. O Gottardo estreou contra o Democrata de Valadares. Esse jogo eu no joguei porque estava machucado. a primeira vez que vou contar em pblico. A o Gottardo entrou como capito. E na quarta-feira a gente tinha um jogo contra o Amrica de Cali (Nonato faz uma confuso: na verdade, o rival era o El Nacional, do Equador, pelas oitavas de final). E o Paulo Autuori optou por colocar o Wilson Gottardo como capito. A no jogo seguinte, num Cruzeiro x Atltico, como eu estava voltando de contuso, o Paulo, para dar uma sequncia de jogos para mim, me colocou para jogar. E me ps de capito. A falei com o Benecy (Queiroz, supervisor de futebol do clube): ‘deixa ele, melhor continuar’. Gottardo era de confiana do Autuori, tinha sido campeo brasileiro no Botafogo em 1995. Achei mais que justo continuar. Nunca tive problema e nem discusso com relao a isso."

Por que o clima de unio da Copa Libertadores no foi repetido no Mundial contra o Borussia Dortmund, em dezembro (o Cruzeiro foi derrotado por 2 a 0)? Faltou harmonia?
Nonato: "Na realidade, o que desestabilizou aquele elenco para o Mundial no foram as contrataes dos quatro jogadores (o lateral-direito Alberto, o zagueiro Gonalves e os atacantes Donizete Pantera e Bebeto), mas sim a sequncia do Campeonato Brasileiro que fizemos com o Nelsinho (Baptista). A 30 dias do Mundial, nem o Dida, que era titular absoluto, tinha comprado a agem da esposa dele. Ningum sabia quem ia viajar. O ambiente ficou de um jeito meio louco. O Wilson Gottardo, que tinha sido capito (da Libertadores), no viajou. O Alberto, que foi contratado para jogar, no jogou e ficou no banco. A ele botou o Gonalves no lugar do Gelson Baresi. E para poder colocar o Donizete Pantera e o Bebeto, ele no ia tirar o cara que fez o gol da final, que foi o Elivlton. A ele achou melhor me tirar e improvisar o Elivlton. Coincidentemente, os dois gols foram pelo lado esquerdo (de defesa), em cima do Elivlton."
Ricardinho: "Eu acho que naquela transio de mudana de treinador – o Paulo saiu para o Flamengo – o time se perdeu um pouco. No sei se foi pela sada do treinador, se foi pela chegada do novo treinador, se foi a sada de algum jogador. Se a gente conseguisse manter aquela base da Libertadores e se o Autuori tivesse continuado, a possibilidade (de ttulo) seria maior. Teramos um time mais entrosado, um grupo na mo. E os jogadores que vieram com certeza iriam agregar e ajudar. Mas o clima de incertezas, como disse o Nonato, nos fez perder a confiana. A gente tinha um grupo bom. Mas essa transio foi mal conduzida. No conseguimos nos ajustar rpido, fomos mal no Brasileiro e para recuperar rpido no Mundial difcil. E nisso tem muitas coisas: presso da imprensa, cobrana por reforos, presidente tem que arrumar o time logo. Vrias situaes que no deram certo para que a gente chegasse bem no Mundial. Se chegasse bem, poderia ter ganhado, pois o Borussia no estava bem na poca."
Clio Lcio: "A instabilidade do momento que causou todo esse alvoroo. O time realmente no estava bem no Brasileiro, a ficou uma dvida. E quando vm dvidas, geralmente tem de haver mudanas no futebol. E as mudanas realmente no deram certo, como poderiam dar certo tambm. De repente, se a gente fosse, voc me perguntaria: ‘seriam campees mundiais">

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