Edina Alves Batista, de 41 anos, vive a expectativa mais especial dos seus 20 anos de carreira como rbitra. A paranaense de Goioer viaja no fim deste ms ao Catar para apitar o Mundial de Clubes e vai se tornar a primeira mulher a atuar no comando de jogos masculinos de competies da Fifa para a categoria adulta. Orgulhosa pela conquista, ela torce para que essa nomeao quebre vrias barreiras na arbitragem. O aumento da presena feminina e o fim da diviso por gnero na profisso so os seus sonhos.
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A juza conversou com o Estado pouco depois de ser confirmada pela Fifa no Mundial. Entre um compromisso e outro pelo Campeonato Brasileiro, Edina relembrou o incio na carreira e o quanto aos poucos a arbitragem tem se tornado um mundo mais aberto. "Est chegando a hora de ns, os rbitros, no sermos mais tratados por gnero, mas sim por capacidade. Tudo est indo por esse caminho agora", disse. "A diviso por gnero tem de acabar. Tudo tem de ser pela competncia", afirmou.
A carreira da paranaense ficou em mais evidncia em 2019, quando ganhou a chance de apitar a semifinal do Mundial Feminino entre Inglaterra e Estados Unidos. No mesmo ano, apitou o encontro entre CSA e Gois, pelo Brasileiro, e encerrou um intervalo de 14 anos sem que uma mulher apitasse um jogo de elite no futebol brasileiro. Antes dela, Silvia Regina foi quem havia trabalhado
A repercusso do trabalho e o espao no mundo masculino da arbitragem fazem Edina ser bastante procurada por iradoras. "Muitas mulheres me escrevem nas redes sociais porque olham para mim e se espelham para pensar que tudo pode acontecer. Muitas at me procuram no porque querem ser rbitras, mas porque me consideram como uma conquista de espao no ambiente de trabalho", contou.
Para chegar ao status de rbitra de competies da Fifa o caminho foi longo. Edina sempre gostou de esporte e trabalhou pela primeira vez aos 19 anos em um jogo amador. A oportunidade despertou o sonho dela em seguir a carreira, apesar do desejo da famlia. "Minha me dizia que ser rbitra no era coisa de menina. Ela queria que eu fizesse cursos de datilografia ou pintura", contou.
De famlia humilde, Edina decidiu procurar um trabalho que lhe ajudasse a pagar a faculdade de Educao Fsica e tambm os cursos necessrios para a formao em arbitragem. "O meu primeiro emprego foi em um viveiro de mudas. Eu enchia os saquinhos de terra para poder pagar meus estudos. Eu gostava do servio", contou. Aos fins de semana, ela deixava Goioer para apitar pelo Paran em campeonatos de futsal e futebol.
A carreira de Edina aos poucos evoluiu e deixou de caber na pequena Goioer e seus cerca de 30 mil habitantes. H trs anos ela se mudou para So Paulo, onde tem uma rotina cheia de estudos tericos sobre arbitragem, reviso dos jogos em que trabalhou, treinos fsicos e aprendizado do ingls. Atualmente a arbitragem a nica fonte de renda da paranaense.
Embora cada vez mais conhecida no futebol, Edina afirmou que apenas isso no o suficiente para ganhar o respeito dos jogadores. "O respeito voc conquista conforme vai acertando dentro da partida. Se voc conduz o jogo de maneira correta, eles respeitam. E isso no por eu ser mulher. Vale para qualquer um. Se o jogador for mal, vai para o banco de reservas. Eu, no meu caso, se for mal eu fico sem apitar", comentou.
Quando ainda enchia os sacos de terra e iniciava na arbitragem, o sonho dela era chegar Srie A. Agora, Edina j pode se dar ao luxo de projetar novos desejos profissionais enquanto aguarda que a trajetria sirva de inspirao e de exemplo de como se pode quebrar barreiras. "Meu sonho um dia apitar em uma Olimpada. E essas conquistas no so minhas. do povo brasileiro, que tambm ou a apoiar mais a presena feminina na arbitragem", contou.