Sinal amarelo na Toca 163a1

Uma das lies que aprendi com um dos meus mestres no jornalismo, Arnaldo Viana, que jornalista no deixa pergunta no ar. A misso do jornalista , por princpio, buscar respostas. Essa lembrana me veio mente quando comecei a questionar se o sinal de alerta j estava aceso no Cruzeiro, diante dos comentrios feitos por torcedores, cronistas esportivos e at pelo tcnico Mano Menezes e por alguns jogadores celestes aps a derrota por 2 a 1 para o Emelec, no Mineiro (foto) – que deixou a Raposa com o segundo lugar geral na Copa Libertadores. Raposa, bastava o empate em casa, tudo parecia muito favorvel, mas a equipe vacilou e deixou cair no colo do Palmeiras (que fez a parte dele e venceu o San Lorenzo, no Allianz Parque) a liderana entre os 32 participantes da fase de grupos do torneio continental. C com os meus botes, pensei: “Quando que o sinal amarelo se acende no futebol?”.

Busquei ento elementos para tentar elucidar a questo. E ficou claro que, mais do que os resultados, as ltimas atuaes do Cruzeiro devem ter rendido pelo menos uma ruguinha a mais em Mano Menezes. No mnimo, elas mostraram que h pontos a corrigir. O lado positivo dessa histria que o prprio treinador reconhece isso.

Digo positivo porque em circunstncias semelhantes no so poucos os personagens do futebol que renegam a realidade, at como forma de proteo. Como se itir fraquezas fosse um defeito, ou diminusse o time. Ora, se os adversrios j enxergaram brechas no esquema de jogo celeste, e aram a explor-las, como ficou evidente nas rodadas iniciais do Campeonato Brasileiro (inclusive nas vitrias suadas sobre Cear e Gois, no Mineiro), seria incoerente o prprio tcnico fingir que est tudo muito bem, obrigado.

H alguns dias, Mano j havia freado anlises mais entusiasmadas que pintaram por a ao dizer que o Cruzeiro vinha fazendo uma temporada eficiente, porm distante do carter avassalador imprimido em alguns comentrios. Em outras palavras: a Raposa construiu, com mritos, a campanha at ento invicta na Libertadores e tambm fez valer sua superioridade na conquista do ttulo mineiro. Mas no quer dizer que tenha sido tudo s mil maravilhas, sem sustos no caminho. Nas duas partidas contra o Atltico mesmo, pelas finais do Estadual, esperava-se um domnio muito maior da equipe cruzeirense, at pelas condies em que o Galo chegou aos confrontos, e no foi o que se viu.

Depois da partida contra o Emelec, Mano adotou o mesmo discurso bem realista e, por assim dizer, comedido. “No somos um time imbatvel”, destacou, ao falar do fim da invencibilidade do time e da defesa celestes na Libertadores. “O fato de ter tomado dois gols (do Emelec) no o fim do mundo. No bom, claro que no bom, mas no somos uma defesa imbatvel, Tivemos outros jogos em que quase sofremos gols, e o Fbio fez grandes defesas. Isso o menos importante de tudo isso. A expectativa quem cria fora”.

O armador Thiago Neves tambm no ps panos quentes nas ltimas exibies da Raposa. “O time est jogando mal, precisa melhorar muita coisa. O jogo est sendo muito abaixo do que poderia ser, pela qualidade do grupo. A equipe vem fazendo muita fora para tentar jogar o que sabe. Precisamos melhorar, isso est ntido”, afirmou.

Sim, o sinal amarelo foi ligado. No (apenas) por causa da derrota para o time equatoriano. No (apenas) pelo fato de a Raposa ter deixado escapar a chance de ir para as oitavas de final da Libertadores com a melhor campanha e, consequentemente, a vantagem de decidir em casa at a semifinal. No (apenas) pelos riscos corridos diante do Cear – graas a mais uma exibio maestral do goleiro Fbio, a vitria no escapou. No (apenas) pela inconstncia demonstrada nos jogos da final do Mineiro contra o Atltico. pelo conjunto da obra, por tudo o que levou a esse cenrio.

O Cruzeiro tem um grupo forte e um treinador vencedor. Tem elementos para garantir a regularidade na temporada e buscar o objetivo que mais cobia: voltar ao topo da Amrica. Para tanto, no pode ignorar os sinais. E Mano parece bem consciente disso.