
At o 1 a 1. Esse foi cantado por Jackson do Pandeiro, flamenguista, argh!, “esse jogo no um a um (se o meu time perder tem zum-zum-zum)”. O 0 a 0 o trivial da vida, o tdio, ningum pegou ningum, no se obrou nem se saiu da moita, o casamento que se arrasta, o emprego que apenas paga as nossas contas. Embora solitrio, o 5 contra 1 apresenta-se sempre como uma alternativa, fazer o qu? E o 7 a 1, todo dia um, no morrer jamais enquanto houver Brasil.
O 3 a 2 o nosso corvo no umbral, nossas derrotas mais desgraadas, a prova da inexistncia de Deus. Primeiro em 1980, roubado. Depois em 1982, vitimados pelo Paolo Rossi, erro do Jnior creditado a Cerezo, de novo o Flamengo roubando da gente. Eu tinha 10 anos, e o corvo avisou quando ganharamos alguma coisa na vida: “Nunca mais”. A culpa tambm era minha. Menos de um ano antes do meu nascimento, em 1971, Dario tinha parado no ar, como o beija-flor e o helicptero. Quando pousou, o 1 a 0 j havia reservado seu lugar na histria. Isso s, e nada mais.
Eterno mesmo s existe um, como diz o nome: o “9 a 2 eterno”. Diante do Palestra em 1927, obra do Trio Maldito – Said, Jairo e Mrio de Castro. “9 a 2 eu j ganhei, vi o gol do Vanderlei, e o Fbio l de costas a chorar!”. Durante anos o cruzeirense se esforou em apagar a histria, como fazem os que negam a ditadura. Surgiu porm, da poeira dos sebos, um manual do prprio clube. E de suas pginas heroicas, o imortal placar.
O 2 a 1, por sua vez, no achou lugar na histria, a no ser no Sonho de Uma Noite de Vern (foto). No apagar das luzes de 15 de julho de 2009, o Galo da Argentina, cujo apodo Estudiantes, ganhou a Libertadores na casa do adversrio. “Do Vern eu vou lembrar, Mineiro se fez calar, e o Galo para sempre eu vou te amar!” J em Buenos Aires, um caminho dos Bombeiros desfilou com os campees. Estendida frente do carro, o pavilho atleticano.
Agora, pois, o 2 a 1 cavuca seu lugar definitivo no olimpo dos placares divinais. Como quem no quer nada – e no queria mesmo –, o Atltico fez um 2 a 1 no Ava. Querendo s um pouquinho, ainda assim um quase nada, ganhou do Vasco: 2 a 1. Como aquele que talvez at queira alguma coisa, bem talvez, ou pelo Cear: 2 a 1. Por fim, despediu-se da Libertadores ao classificar-se para a Sul-Americana com uma vitria sobre o Zamora. 2 a 1.
Tudo daquele jeito que o diabo gosta, pronto a nos enfartar na curva da esquina: salvo pelo VAR aos 45 do segundo tempo, e mais dois gols aos 48. Os detratores dizem termos batido em cachorro morto. Mas se um cachorro morto bate em trs cachorros mortos, no mnimo ele merece viver. E a estamos, redivivos, lder deste estranho Brasileiro, em que o atleticano dormiu sonhando com os 45 pontos e acorda agora com a certeza de que alcanar os 80, s no sapatinho, s no 2 a 1.
Amanh tem o Palmeiras de Felipo, protagonista-mor do 7 a 1. Casa onde se deu a tragdia, o Mineiro h de trazer todo o seu mau agouro ao velho comandante. No sei quem far o gol do Palmeiras, inevitvel, mas toro sempre por Marcos Rocha. A virada gostaria que fosse por obra de Alerrandro, essa vtima dos escrives de cartrio sem noo da lngua de Cervantes.
No precisa um 2 a 1 contundente, um implacvel 2 a 1. Pode ser at um 2 a 1 injusto. Mas ser ainda melhor se evoluir para o 2 a 1 honesto, a os largos para a eternidade.