Fred Melo Paiva
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DA ARQUIBANCADA 3j26c

O 2 a 1 no olimpo dos placares divinais 5v1s5t

'Os detratores dizem termos batido em cachorro morto. Mas se um cachorro morto bate em trs cachorros mortos, no mnimo ele merece viver' 1u6h16

postado em 11/05/2019 12:00

<i>(Foto: Marcelo Sant'Anna/EM/D.A Press )</i>
Nunca tinha me ocorrido a beleza encarnada no 2 a 1. No havia, at ento, nada que o consagrasse no altar dos placares imortais. O 4 a 1, por exemplo, nos remete de imediato final de 1970, ao Flamengao classificadao e dancinha do Mano depois do gol de Edmonstro. O 2 a 0 a nossa senha pra falar com Deus, a centelha do nosso Big Bang, as derrotas mais gratas e a vitria mais fenomenal.

At o 1 a 1. Esse foi cantado por Jackson do Pandeiro, flamenguista, argh!, “esse jogo no um a um (se o meu time perder tem zum-zum-zum)”. O 0 a 0 o trivial da vida, o tdio, ningum pegou ningum, no se obrou nem se saiu da moita, o casamento que se arrasta, o emprego que apenas paga as nossas contas. Embora solitrio, o 5 contra 1 apresenta-se sempre como uma alternativa, fazer o qu? E o 7 a 1, todo dia um, no morrer jamais enquanto houver Brasil.

O 3 a 2 o nosso corvo no umbral, nossas derrotas mais desgraadas, a prova da inexistncia de Deus. Primeiro em 1980, roubado. Depois em 1982, vitimados pelo Paolo Rossi, erro do Jnior creditado a Cerezo, de novo o Flamengo roubando da gente. Eu tinha 10 anos, e o corvo avisou quando ganharamos alguma coisa na vida: “Nunca mais”. A culpa tambm era minha. Menos de um ano antes do meu nascimento, em 1971, Dario tinha parado no ar, como o beija-flor e o helicptero. Quando pousou, o 1 a 0 j havia reservado seu lugar na histria. Isso s, e nada mais.

Eterno mesmo s existe um, como diz o nome: o “9 a 2 eterno”. Diante do Palestra em 1927, obra do Trio Maldito – Said, Jairo e Mrio de Castro. “9 a 2 eu j ganhei, vi o gol do Vanderlei, e o Fbio l de costas a chorar!”. Durante anos o cruzeirense se esforou em apagar a histria, como fazem os que negam a ditadura. Surgiu porm, da poeira dos sebos, um manual do prprio clube. E de suas pginas heroicas, o imortal placar.

O 2 a 1, por sua vez, no achou lugar na histria, a no ser no Sonho de Uma Noite de Vern (foto). No apagar das luzes de 15 de julho de 2009, o Galo da Argentina, cujo apodo Estudiantes, ganhou a Libertadores na casa do adversrio. “Do Vern eu vou lembrar, Mineiro se fez calar, e o Galo para sempre eu vou te amar!” J em Buenos Aires, um caminho dos Bombeiros desfilou com os campees. Estendida frente do carro, o pavilho atleticano.

Agora, pois, o 2 a 1 cavuca seu lugar definitivo no olimpo dos placares divinais. Como quem no quer nada – e no queria mesmo –, o Atltico fez um 2 a 1 no Ava. Querendo s um pouquinho, ainda assim um quase nada, ganhou do Vasco: 2 a 1. Como aquele que talvez at queira alguma coisa, bem talvez, ou pelo Cear: 2 a 1. Por fim, despediu-se da Libertadores ao classificar-se para a Sul-Americana com uma vitria sobre o Zamora. 2 a 1.

Tudo daquele jeito que o diabo gosta, pronto a nos enfartar na curva da esquina: salvo pelo VAR aos 45 do segundo tempo, e mais dois gols aos 48. Os detratores dizem termos batido em cachorro morto. Mas se um cachorro morto bate em trs cachorros mortos, no mnimo ele merece viver. E a estamos, redivivos, lder deste estranho Brasileiro, em que o atleticano dormiu sonhando com os 45 pontos e acorda agora com a certeza de que alcanar os 80, s no sapatinho, s no 2 a 1.

Amanh tem o Palmeiras de Felipo, protagonista-mor do 7 a 1. Casa onde se deu a tragdia, o Mineiro h de trazer todo o seu mau agouro ao velho comandante. No sei quem far o gol do Palmeiras, inevitvel, mas toro sempre por Marcos Rocha. A virada gostaria que fosse por obra de Alerrandro, essa vtima dos escrives de cartrio sem noo da lngua de Cervantes.

No precisa um 2 a 1 contundente, um implacvel 2 a 1. Pode ser at um 2 a 1 injusto. Mas ser ainda melhor se evoluir para o 2 a 1 honesto, a os largos para a eternidade.

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