Fred Melo Paiva
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DA ARQUIBANCADA 3j26c

A seleo masculina como a Itabira de Drummond 2b613e

Assim no futebol como na vida, nossas esperanas esto agora nos ps e nas mos das mulheres. A revoluo feminista! xa18

postado em 22/06/2019 14:03 / atualizado em 22/06/2019 14:10

<i>(Foto: Lucas Figueiredo/CBF)</i>
A Seleo Brasileira (foto) nunca pareceu tanto com o Brasil. Em campo, os homens de amarelo compem uma alegoria de algo que se perdeu. Alguma coisa que poderia ter sido mas no foi. Alguma coisa que at j foi, mas, sabe-se, nunca mais ter a chance de vir a ser novamente. No se pode dizer que Brasil e Seleo Brasileira no meream ambos esse triste ocaso. Merecem. Merecemos.

A CBF fez o que pde para destruir o futebol brasileiro. Arruinou e arruna os clubes locais. Incentivou e segue a incentivar a exportao de ps de obra, cada dia mais cedo. Matou a mais bem-sucedida escola do ludopdio mundial, hoje a copiar canhestramente aqueles a quem antes servamos de inspirao. Aqui tudo colnia, tudo se entrega, o pau-brasil, o ouro, o minrio de ferro, o petrleo, a gua, os nossos craques em potencial.

O que esta Seleo que agora disputa a Copa Amrica? No h em seu jogo qualquer resqucio de uma escola que se assemelhe escola brasileira, que serviu, por exemplo, ao Barcelona de Guardiola. No h um nico jogador que se possa dizer “brasileiro”, algum que vagamente nos remeta queles que construram uma histria vitoriosa e nica, e da qual voluntariamente agora abrimos mo.

Seria Neymar, se estivesse jogando, mas tampouco o “brasileiro” clssico Neymar. Tnhamos em ns – em Pel, Garrincha, Ronaldinho Gacho – alguma coisa de uma atitude simples, uma inocncia quase debochada, que se resumia esteticamente no drible desmoralizante, liso, uma brincadeira de palhao no picadeiro da vida.

Com Romrio fomos marrentos pela primeira vez. Ainda sim, a marra do bom malandro, no limite da desenvoltura carioca, o babaca gente fina, o escroto que a gente gosta. Ronaldo Fenmeno s foi cruzar a linha depois de encerrada a carreira. Neymar a anttese disso tudo. Tripudia e cai, esperto em sua pequena corrupo. Provoca apenas quando o placar j lhe favorvel. o escroto em estado de arte. Levamos quase um sculo construindo, atravs do futebol, uma certa imagem de Brasil. Neymar a destruiu em uma nica Copa. E segue.

Em campo, abdicamos do drible, do improviso, nossa marca registrada. Ocupar o espao livre com a ginga malandra no mais uma opo. A ginga, agora, parece que nos envergonha, como falar ingls com sotaque, imagine, preciso falar ingls com sotaque ingls. Ou americano. O vira-latismo nosso trao fundamental.

A certa altura de Veneno remdio, livro do craque Jos Miguel Wisnik, ele traa um paralelo entre dois povos marcados pelo futebol. O ingls bom em dar chuto pra frente porque ele, o ingls, sabedor de que a menor distncia entre dois pontos uma linha reta. Por isso vai direto ao ponto, no tergiversa, prtico e pragmtico. O brasileiro dribla – driblava – at para trs. a alegoria de uma sociedade que ginga, que faz que vai mas no vai, que parece que fica, mas, de repente, j foi. E se assim somos penta e eles apenas uma vez campees, o que significa que, como sociedade, ainda h esperana. Ou pelo menos havia.

No Brasil de 2019, a Seleo masculina como a Itabira de Drummond, apenas uma fotografia na parede. Cercada por barragens da minerao, prestes a engolir tudo de vez. Assim no futebol como na vida, nossas esperanas esto agora nos ps e nas mos das mulheres. A revoluo feminista! Pussy Riot! Salve, Marta, a maior de todxs! Que a brasileira l no estrangeiro mostre o futebol como ele , e que ganhe a taa do mundo sambando com a bola no p.

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